1º Bimestre

2º Bimestre

Metodologia Científica - 2º Bimestre (semana 5)

Levantando dados e Informações



1. Introdução

Notoriamente as pesquisas sociais têm, ao longo do tempo, se embasado em métodos quantitativos de pesquisa. De acordo com Minayo (2010, p. 47) a pesquisa social pode ser entendida como os vários tipos de investigação que “tratam do ser humano em sociedade, de suas relações e instituições, de sua história e de sua produção simbólica”.
Outra forma de pesquisar que tem se firmado nos últimos 30 anos, diz respeito ao método de pesquisa qualitativa, que surgiu inicialmente no seio de pesquisa da Antropologia e Sociologia, encontrando destaque e espaço em áreas como a Administração, Educação e Psicologia.
Destacando sucintamente as diferenças existentes entre os distintos métodos de pesquisa: quantitativo e qualitativo, tem-se no método quantitativo um rigor previamente estabelecido, que segue hipóteses previamente indicadas, bem como variáveis definidas, ao passo que na pesquisa qualitativa essas variáveis costumam ser direcionados ao decorrer da investigação.
Conforme descreve Minayo (2010) este tipo de método procura “desvelar” processos sociais que ainda são pouco conhecidos e que pertencem a grupos particulares, sendo seu objetivo e indicação final, proporcionar a construção e/ou revisão de novas abordagens, conceitos e categorias referente ao fenômeno estudado.
Faz-se importante destacar que na comparação de ambos os métodos não se deve atribuir prioridade de um sobre o outro, mais sim entender que cada um contribui e tem seu lugar, papel e adequação, trazendo, portanto, entendimentos importantes e complementares, devendo contribuir para melhor compreensão do fenômeno. Nesse estudo iremos ater as discussões a cerca do método de pesquisa denominado qualitativo.

1.1 As Características, Formas e Abordagens da Pesquisa Qualitativa

Conforme descreve Minayo (2010, p. 57), o método qualitativo pode ser definido como:

“... é o que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam. Embora já tenham sido usadas para estudos de aglomerados de grandes dimensões (IBGE, 1976; Parga Nina et.al 1985), as abordagens qualitativas se conformam melhor a investigações de grupos e segmentos delimitados e focalizados, de histórias sociais sob a ótica dos atores, de relações e para análises de discursos e de documentos.”

No método de pesquisa denominado qualitativo existem diferenças quanto à forma, método e aos objetivos. Godoy (1995, p. 62) exemplifica a respeito da diversidade existente entre as pesquisas qualitativas, descrevendo características fundamentais que deve constar nesse tipo de pesquisa, a saber:
  • O ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental;
  • O caráter descritivo;
  • O significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida como preocupação do investigador;
  • Enfoque indutivo.
Deve-se ter como foco a intenção de buscar compreender o fenômeno, quando observado minuciosamente. Trata-se da ação fundamental na pesquisa qualitativa, e quanto mais o pesquisador se apropria de detalhes, melhor se torna a compreensão da experiência que foi compartilhada pelo sujeito.
Dentro da pesquisa com o enfoque qualitativo existem estratégias que podem ser utilizadas, conforme descreve Creswell (2007), sendo elas:
  • A Etnografia;
  • A Teoria Embasada;
  • Os Estudos de Caso;
  • As Pesquisas Fenomenológicas e
  • As Pesquisas Narrativas;
Essas estratégias de investigações permitem ao pesquisador uma direção específica dentro do fenômeno pesquisado. As técnicas supramencionadas conforme destaca Creswell, são as mais empregadas dentro das ciências sociais, entretanto, com as mudanças contemporâneas e avanços tecnológicos sabem-se que as estratégias têm se multiplicado ao longo dos anos.
Ainda tratando a respeito das técnicas utilizadas, conforme aponta Godoy (1995) existem pelo menos, três distintas possibilidades de pesquisa dentro do método qualitativo, sendo eles:
  • O Estudo de Caso;
  •  A Pesquisa Documental e
  •  A Etnografia.
Já a autora Minayo (2010) destaca que a partir da Filosofia Compreensiva, diversos tipos de abordagens metodológicas se desenvolveram, dentre as quais cita:
  • A Fenomenologia Sociológica;
  • A Etnometodologia;
  • O Interacionismo simbólico;
  • As Histórias de Vida e
  • Os Estudos de Caso.
A natureza do fenômeno pesquisado influencia diretamente na escolha da abordagem a ser utilizada. De forma geral, no método qualitativo, se emprega procedimentos de interpretação, a partir dos dados coletados, sendo eles dados simbólicos, situados em um determinado contexto e que de alguma forma expressam parte da realidade do indivíduo que diz respeito ao que é verbalizado, estando a outra parte submersa, tratando-se, portanto do conteúdo a respeito do qual o sujeito não verbalizou.
Minayo (2010) finaliza a discussão referente aos vários tipos de abordagem ressaltando que, não existe uma ciência geral, mais sim práticas científicas diferenciadas, envolvendo em seus substratos visões sociais de mundo diferenciadas, cabendo, portanto, a cada um aprofundar-se no assunto que lhe suscitar interesse.

1.2 A Entrevista na Pesquisa Qualitativa

Ao se falar em entrevista como técnica privilegiada de comunicação e coleta de dados, Minayo (2010, pág. 261) destaca que se trata da estratégia mais utilizada no trabalho de campo, ressaltando o seguinte conceito:

“...é acima de tudo uma conversa a dois, ou entre vários interlocutores, realizada por iniciativa do entrevistador, destinada a construir informações pertinentes para um objeto de pesquisa, e abordagem pelo entrevistador, de temas igualmente pertinentes tendo em vista este objetivo.

As entrevistas podem até mesmo ser consideradas conversas com finalidades, se caracterizando por sua forma de organização. As entrevistas podem ser classificadas em: a) sondagem de opinião; b) entrevista semi-estruturada; c) entrevista aberta ou em profundidade; d) entrevista focalizada; e) entrevista projetiva. É também através das entrevistas que ocorrem os processos de narrativas de vida, ou também denominadas “histórias de vidas”, “histórias etnográficas”, “etnobiografias” ou “etno-histórias”. Podem também ser acrescentados a essas modalidades os chamados grupos focais (MINAYO, ASSIS E SOUSA, 2005 apud MINAYO 2010).
De acordo com Cozby (2003) um fator importante sobre as entrevistas é a respeito de ela envolver uma interação entre pessoas, ou seja, esse contato acarreta diversos fatores que serão discutidos abaixo, na qual um deles importante a ser considerado é uma maior propensão a serem de fato respondidos, ao contrário do que ocorre com os questionários, que não acontecem em interações com a pessoa em tempo real.
Um problema que pode ser destacado dentro dessa técnica consiste na possibilidade de ocorrência do viés do entrevistador, justamente por se tratar de uma interação entre seres humanos, onde os problemas apontados consistem em: possibilidade de interferência sutil nas respostas do entrevistado, em consequência de sinais que possam ser demonstrados pelo entrevistador de aprovação ou desaprovação.
Outro problema a ser considerado relaciona-se a própria expectativa do entrevistador em “ver o que procura” nas respostas. Cozby refere-se que essas expectativas podem viesar as interpretações das respostas, ou seja, agir de forma a ser tendenciosa na leitura dos fenômenos.
O autor considera três métodos para realizar entrevistas, quais sejam: entrevista face a face, entrevistas por telefone e entrevistas de grupo focal.
De acordo com Martins & Bicudo (1994, pág. 53) a entrevista, vista como um recurso dentro da pesquisa qualitativa pode ser considerado como: “um encontro social, possuidor de características peculiares, que são: a empatia, a intuição e a imaginação”.
Os autores consideram que na pesquisa qualitativa são trabalhados entre as pessoas participantes os significados e as normas de conduta. Durante o diálogo com os respondentes de uma pesquisa qualitativa, não é possível seguir as regras e o rigor que dizem respeito à metodologia da pesquisa empírica, que inclusive tratam a entrevista como “método”. Conforme citam os autores ela não se trata de um método, mais sim de um recurso metodológico.
Conforme destacam Martins e Bicudo (1994, pág. 54), a entrevista:

“... é a única possibilidade que se tem de obter dados relevantes sobre o mundo-vida do respondente. Ao entrevistar-se uma pessoa, o objetivo é conseguir-se descrições tão detalhadas quanto possível das preocupações do entrevistado. Não é, tal objetivo, produzir estímulos pré-categorizados para respostas comportamentais. As descrições ingênuas situadas, sobre o mundo-vida do respondente, obtidas através da entrevista, são, então, consideradas de importância primária para a compreensão do mundo-vida do sujeito”.

Propõe-se que, no recurso da entrevista um importante fator a ser considerado refere-se ao potencial do pesquisador, conforme aponta os autores supramencionados, uma vez que este pode enfrentar sua própria falta de preparo em propor questões iniciais, com consistências atraentes, que consigam estabelecer uma comunicação ativa.
Minayo (2010) destaca algumas considerações práticas necessárias ser consideradas em qualquer situação empírica, em especial no contexto da realização de entrevista, seja ela, estruturada, não estruturada ou semi-estruturada. As indicações que serão fornecidas abaixo tratam a respeito de indicações para a entrada do entrevistador em campo:
  • Apresentação; b) Menção do interesse da pesquisa; c) Apresentação de credencial institucional; d ) Explicação dos motivos da pesquisa; e) Justificativa da escolha do entrevistado; f) Garantia do anonimato e de sigilo; g) Conversa inicial ou denominado “aquecimento”.
Entretanto ainda assim, é importante citar que, tomados todos os cuidados e indicações necessárias, pode haver dificuldades típicas que são encontradas dentro das interações estabelecidas em pesquisa. Os procedimentos enumerados não se tratam de normas rígidas a serem cumpridas a risca, mais sim sugestões a partir de experiências que podem guiar o pesquisador atuando nesse contexto.
Como formas de registros das diversas modalidades de entrevista, Minayo (2010) aponta que dentre o mais fidedigno encontra-se o instrumento de gravação de conversa, ou ainda se possível outro recurso seria a filmagem. É importante citar que é necessário sempre o consentimento do interlocutor para que se utilize qualquer instrumental.  Quando ambas não forem possíveis, se indica registrar as falas imediatamente após as coletas de dados, não devendo se confiar apenas na memória.
No que diz respeito às análises dos dados colhidos em entrevista, Martins & Bicudo (1994) destacam que o entrevistador competente à medida que a pesquisa se processa, já é capaz de verificar quais pontos são mais importantes para serem discutidos, não precisando necessariamente esperar até que toda a pesquisa seja concluída.
Costumam ser tratados segundo a análise categorial, definido por sistema e sequência própria do entrevistador, onde os principais tópicos já podem ter sido selecionados em estudo piloto.
Insta salientar que o primeiro passo quando da interpretação dos dados obtidos, trata-se da análise precisa a respeito da forma como o sujeito o apresentou, uma análise preliminar poderá ser considerada prematura. Nesse momento, deve-se considerar o significado daquela fala atribuído para o sujeito que a verbalizou, sendo somente a posteriori consideradas em relação a importância da pesquisa e suas análises.
Conforme citam os autores Martins e Bicudo (1994, pág. 58):

“A possibilidade de descoberta genuína é mantida na busca sistemática de significados. O procedimento é descritivo e interpretativo, uma vez que o pesquisador está interessado na atitude de abertura do entrevistado, onde haja supressão de preconceitos”.

Destaca-se que, dentro das opções indicadas ao fidedigno processo de interpretação e análise dos dados, sugere-se, por exemplo, que outros pesquisadores envolvidos no projeto possam também ser acionados para leitura dos significados interpretados ou também que sejam feitas devolutivas ao entrevistado, solicitando-lhe que ele possa confirmar o que foi dito em entrevista.

2. Discussões:

O método de pesquisa qualitativo têm se firmado nos últimos 30 anos dentro do contexto das pesquisas sociais. Este tipo de método busca proporcionar novos conceitos, categorias, construção e/ou revisão de novas abordagens no que tangem a melhor compreensão a cerca do fenômeno estudado.
Dentro do método de pesquisa qualitativo existem diversidades quanto à forma, método e aos objetivos. Entre as diversidades existentes na pesquisa qualitativa deve-se considerar: O ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental; O caráter descritivo; O significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida como preocupação do investigador e o Enfoque indutivo.
A respeito das estratégias que podem ser utilizadas, de forma geral pode-se considerar: A Etnografia; A Teoria Embasada; Os Estudos de Caso; As Pesquisas Fenomenológicas e As Pesquisas Narrativas.
Discorreu-se a cerca da entrevista como técnica privilegiada de comunicação e coleta de dados, onde a mesma se destaca como estratégia mais utilizada no trabalho de campo. As entrevistas podem ser classificadas em: sondagem de opinião, entrevista semi-estruturada, entrevista aberta ou em profundidade, entrevista focalizada, entrevista projetiva e grupos focais.
Também fora discorrido a respeito do possível viés do entrevistador que pode ocorrer quando se tratam de pesquisas dentro de um contexto de interação entre seres humanos.


No que diz respeito à análise e interpretação dos dados coletados discute-se a cerca da neutralidade que deve estar presente nessa fase primordial da pesquisa, cabendo primeiramente ao pesquisador descrever os fatos e analisar conforme os significados foram atribuídos ao entrevistado, sendo, portanto indicado que somente ao final se analise à luz da importância social da pesquisa.